terça-feira, 13 de maio de 2014

13 de Maio: Uma data para se refletir

“A carne mais barata do mercado é a carne negra...”

          Há exatos 126 anos atrás, a Princesa Isabel assinava aquilo que se chamaria de Lei Áurea e abolição da escravatura, mas o que deveria ser a solução para a situação de subalternidade das negras e negros na sociedade brasileira foi somente mais um ato de espoliação cruel dos direitos dos agora cidadãos e cidadãs.

          Como diz Florestan Fernandes de maneira bastante acertada, a abolição é uma ironia atroz, pois em questão de minutos, “o liberto viu-se convertido, sumária e abruptamente, em senhor de si mesmo, tornando-se responsável por sua pessoa e por seus dependentes, embora não dispusesse de meios materiais e morais para realizar essa proeza nos quadros de uma economia competitiva”[1].

           Trata-se de uma abolição inacabada, não concluída, literalmente para inglês ver, que não contempla a história de luta do povo negro no Brasil e todos seus movimentos de resistência. A história contada ainda hoje enaltece a benevolência e generosidade do branco, e piedade da Princesa Isabel ao proclamar a escravidão como abolida, mas que nada diz da situação de miséria e desamparo a que o negro foi sujeitado após a assinatura da lei.

          Hoje, o Brasil é composto de aproximadamente 51% de negras e negros, no entanto a população negra ainda sofre os efeitos da exclusão. Se antes o lugar das negras e negros era na senzala e sob o estalar do chicote, hoje o lugar não é muito distinto. De acordo com o DEPEN (Departamento Penitenciário Nacional), 60% da população carcerária é negra e, segundo o Datasus (Ministério da Saúde), 70% das vítimas de assassinato é negra. Por isso Elza Soares canta com tanta indignação que “a carne mais barata do mercado é a carne negra”, que é aquela “que vai de graça pro presídio e pra debaixo do plástico; que vai de graça pro subemprego e pros hospitais psiquiátricos”.

           Não dá mais! Que o 13 de Maio não seja uma data comemorativa, mas que sirva de marco reflexivo da situação atual da população negra no Brasil, reclusa às periferias e destituída da prestação dos serviços básicos do Estado, vítima diária de racismo e da seletividade do sistema prisional.

           Para que tenhamos uma verdadeira abolição da condição de subalternidade que encerra a população negra ainda há muito a se fazer, e liberdade pela qual se lutar!

           Rebelemo-nos!
           Uhuru![2]

NAJUP Gabriel Pimenta

[1]FERNANDES, Florestan. A Integração do Negro na Sociedade de Classes. Vol. 1. São Paulo: Ática, 1978, p.15.
[2]Palavra ‘LIBERDADE’ em Suaíle.




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